Aqui há uns meses ouvi falar num retiro para cintos negros e pensei "Olha aqui está uma óptima ideia. Se os artistas têm 'A Casa do Artista', porque é que nós também não haviamos de ter um Asilo para cintos negros?".
O valor da quota nem era alto e eu inscrevi-me logo.
Afinal, na semana passada, é que me dizem que o que queriam dizer é que se ia realizar um estágio só para cintos negros.
Fiquei um bocado chateado e desiludido com a noticia.
Já me estava a ver a acabar os meus dias na companhia dos tipos que me têm enchido de porrada nos praticamente 25 anos que levo de karate. As noitadas a jogar à "sardinha" (já que não deveremos ter força para o Ude Tanden ou o Kakie...), as partidas que iríamos fazer do tipo de esconder a dentadura dos outros na arrastadeira ou encher as fraldas dos que estiverem incontinentes com areia ou serradura.
Sonhar é fácil, mas sonhos bonitos como este são sempre de curta duração...
Como uma má notícia nunca vem só, fiquei ainda a saber que o estágio ia ser orientado pelo Sensei Aivaras, um mestre da Lapónia.
Ora aquilo para além da neve e das renas só tem o Pai Natal e uma dúzia de anões. Então isto queria dizer que o Pai Natal é que ia orientar o estágio e, de certeza, o gordo não se devia mexer muito. A coisa não prometia.
Afinal os enganos são como as imperiais: é dificil beber só uma.
O mestre vinha da Lituânia.
Oops! A presidente da Lituânia (agora com 53 anos) é cinto negro de Shotokan...queres ver que o tipo vem mandatado pela Troika e o que quer é acabar connosco? Como somos a fina flor do Goju, se ele acabasse connosco o Shotokan passava a ser encarado como um estilo de karaté. Afinal a manha dos bichos era maior do que eu pensava.
Já estou a ver os cartazes “Estágio de Karaté orientado pelo Sensei Ramalho”.
No Aeroporto o pessoal à espera para o entrevistar e, eis senão, que se apresenta um senhor, de kimono, com um emblema do Shotokan, saído de um avião da Swiss Air (já estão a ver quem é?). “Olá”, diz ele, “eu sou o Sensei Carlos Ramalho!!!” (this is a private joke)
Ooooh!!! Afinal não é nenhum daqueles grandes Senseis de Goju (o José ou o Mestre João), pudera, a Troika deu cabo deles…
Bom, o Sensei Aivaras lá apareceu para nos dar um treininho no Real, antes da partida para a Golegã.
Tipo franzino, abaixo dos 40 anos, não me pareceu grande coisa.
E, como sempre, eu tinha razão. Fiz-lhe meia dúzia de Gedan-Barai e foi vê-lo a sair pela porta.
Lembrei-me logo da história do alentejano a quem calhou uma boneca insuflável (aqui dão todos 2 há-há! – esta piada é só para quem foi ao estágio).
O estágio em si correu de forma impecável. Em quatro treinos conseguimos aprender a fazer o kata que é ensinado em primeiro lugar aos cintos brancos.
Se pensarmos que éramos todos cintos negros (alguns até eram 5ºs. Dans) a coisa nem correu mal.
Já me estou a ver num próximo estágio a aprender a fazer Suparinpei. Devo precisar, pelo menos, de dois meses.
Para além de Gekisai-Dai-Ichi, aprendemos a emborcar imperiais e a saborear “toureiros”.
O resultado foi espetacular. Ansiamos por outro estágio, talvez na Lituânia …
Os Sensei "Tall" e Aivaras demonstram a nova versão do "jogo da sardinha"