terça-feira, 8 de março de 2011

Golegã, Março de 2011

Pois!
Acabou mais um Kangeiko de Karaté do pessoal do Real Sport Clube,  mais conhecido como "Massamá" ( o nome foi-lhe posto como homenagem ao General Massena - herói das invasões francesas ...). Modéstia à parte, sou muito mais culto que o Wikipédia que levámos connosco.
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 Fomos para um local chamado Golegã - A capital do cavalo...

Até pode ser que seja, mas cavalos, sem ser em fotos e desenhos, não vi nenhum. "Estão na lezíria a pastar", disseram-me. Ora se estão na lezíria, porque é que não é a lezíria a capital? Isto é um bocado como ir aos "Pastéis de Belém" para comer bolas de berlim...
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As instalações hoteleiras eram muito boas. Ficámos alojados no SportHotel.

Os quartos comportavam 6 camas individuais (ouvi dizer que a do Pavarotti e a do Cochadas era a única de casal, se calhar era por isso que o Pavarotti tinha tantas dificuldades em andar...). Os quartos tinham ar condicionado e eram em dois pisos, ficando três camas em cada e possuia uma casa de banho em cada um.

A minha estava equipada com tudo o que era artigos de higiene pessoal, desde champô, gel de banho, pasta de dentes, desodorizantes, lâminas de barbear e, inclusivé, escova de dentes.
Só quando já vinhamos a caminho de Lisboa é que me apercebi que aqueles artigos pertenciam ao pessoal que dividia o piso comigo. Como era sempre o primeiro a levantar-me, e tinha dois conjunto diferentes ao meu dispôr na bancada da casa de banho, ora usava o da esquerda, ora usava o da direita. A escova de dentes do tipo com a bolsa do lado esquerdo era um bocadinho rija para mim, mas como diz o ditado "A cavalo dado..." (e calhava bem por estávamos na Golegã).   Aqueles gajos são uns bacanos, sempre preocupados com o meu bem-estar, nem sei como lhes agradecer.

Só não usei a escova do cabelo deles porque tive receio de apanhar caspa.
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O regime de treinos de karate foi muito bem distribuido, tendo sido alternado com jogatanas de futebol.
O primeiro treino foi ministrado pelo Mestre João (que nas horas livres faz uns biscates como agente da autoridade).
O gajo devia ter estudado para advogado porque de certeza que tinha sucesso.
Para além de nos ter obrigado a fazer um Kata de Shotokan ou Shotokai (só mudam as moscas), ensinou-nos uma série de aplicações (Bunkai) tanto daquele kata, certamente baseado na coreografia de um polícia sinaleiro (praticamente extintos), como de alguns kata do nosso estilo de karate.

A grande novidade é que eles eram todos executados no chão (no "chom", como ele dizia  - deturpação fonética associada ao ramo policial onde faz os tais biscates...). Ora, até então, o único tipo que eu conhecia que passava o tempo deitado no tatami é hoje um ilustre advogado (faço aqui um parentesis para o  felicitar pelo seu magnífico currículo profissional pois já conseguiu a condenação de dois inocentes à pena máxima pela prática de simples delitos de ofensa cabeçal e a absolvição do principal responsável pela aquisição dos 22 submarinos para Portugal - embora só tenhamos conseguido receber dois...).
Tentei executar as técnicas que o Mestre João me tinha ensinado e que, efectivamente, até funcionam. Dificil, dificil, é arranjar um gajo que se queira deitar comigo sabendo que depois vai levar porrada...
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O S'tor Chefe deu outro dos treinos.
Começou com a desmistificação duma máxima universalmente aceite como verdadeira:  "... certamente, estão todos convencidos que o Karaté é pra homens. Hoje vou provar-vos o contrário ...".
Começou então a pedir-nos para executar uma série de exercícios em que parecíamos umas "bichonas" a caminho do serviço ou, em última análise zumbis atacados por um virus disfuncional que nos provocava um "desengonçar" mórbido.
Mais uma vez (talvez contagiado pelo Mestre João) obrigou-nos a fazer Mawashi Jodan, mas deitados no chão.
S'tor, os gajos que andam no gamanço, raramente se deitam no chão pra trabalhar, não sei, é só um palpite, mas se calhar devíamos aprender a fazer aqueles pontapés em pé.
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Não vou comentar os treinos do Sensei Cajó e do Sensei Ramalho porque como treino sistematicamente com eles e apesar de não serem vingativos (...muito...é raro darem-me pontapés no fígado ...), começo a ficar com poucos amigos e por isso é aconselhável poupar alguns..
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O último treino, ficou para o fim.
Foi uma surpresa ter sido agraciado com uma aula de filosofia dada por um Morote-Sensei  (Mestre de Karaté e Mestre de Filosofia), como me costumam segredar as minhas amigas "um duplo prazer".
A dissertação foi muito interessante mas permite-me algumas curtas considerações através das quais te vou tentar provar que também sou um "Karate Researcher":

1.ª Eu não me gabava de ter estudado Sócrates. Quase todos os gajos que o estudaram estão (ou estiveram) sob escuta;

2.ª Não sei qual é a admiração de muitos dos filósofos que mencionaste terem vivido alguns anos antes de Cristo. Ele estava na minha fila, ao lado do João Saúde, e não parecia ter mais de vintes anos;
3.ª Quando te referires a Talles, deves acrescentar que não é o "Talo De Couves", caso contrário  o Carlos fica baralhado. Como sabes filosofia não é propriamente o seu forte;
4.ª Quando fizeres perguntas à assistência, não escolhas o Gibóia. O tipo tem mais entremeada na cabeça que massa cinzenta;
5.ª Quando disseres que somos "chimpanzés-bebés", olha para o Manel e dá-lhe a entender que não és preconceituoso;
6.ª Como referiste a mulher de Sócrates era insuportável, mas o Paulo Portas também o  é ... agora esqueci-me a que Sócrates te referias;
7.ª O Karaté é uma arte. A arte da invisibilidade. Viste quantas vezes me passaram a bola nos jogos de futebol?
Para terminar deixo-te com esta:
Deus sentou-se ao sétimo dia para descansar ... eu deixei-te sete sugestões ... vês a analogia?
Pois!

3 comentários:

  1. Caraças, é por essas e por outras que sou assíduo visitante deste ilustre espaço, que apesar da paneleira paisagem inspiradora no pano de fundo não deixa de conter sabedoria mesmo à homem. A profundidade da tua interpretação deste estágio em geral e da minha apresentação em particular não deixam dúvidas de que és realmente o puro Karate Researcher. Terei sem dúvida de partilhar contigo o título de Morote-Sensei. Quem sabe um dia, por força dos inchaços causados pelas mocadas que me aviaste nos joelhos durante o jogo de futebol, consiga como tu executar o famoso morote-hiza geri com uma só perna, que até hoje somente Sensei Peixoto consegue fazer.

    Em todo o caso não serei capaz de fazer as alterações que sugeriste à minha apresentação. Comecei a rasgar as páginas que eram incompatíveis com a tua análise e no final em vez de uma versão melhorada fiquei com confetti. Portanto fica como está mas também que se lixe, em filosofia tanto vale uma teoria como o seu contrário. Por isso é que se diz que a investigação filosófica é a mais barata de todas: em Física precisam de caríssimos aceleradores de partículas, em Química de laboratórios cheios de engenhocas e de materiais raros, em Matemática já só precisam de papel, lápis e um caixote do lixo. Em Filosofia, só é preciso um papel e um lápis.

    Um grande talo de couve para ti, pá.

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  2. Sensei Peixoto ("Coiso", como o apelidou o "sleepwalker"), estou extasiado com tais sábias palavras. Há muito tempo que não lia crónicas tão arrojadas. Até o Gibóia a esta hora deve estar agarrado a um dicionário a tentar descobrir o significado dos termos que usaste na tua narrativa. Excelente descrição do Kangeiko que faz sobressair a tua veia literária. Êstou "esputrefacto"!

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  3. Para além de ficar fã do Hotel da Golegã também fiquei fã do Pey Shoto Filosóficus!

    Assim, sim, começa a valer a pena (sem desprimor para o anteriormente!) visitar este blog.

    Um abraço ao autor e aos anteriores comentadores!

    (Não sei se o Daniel citou aquela velha máxima filosófica: "O Karaté é uma soda!" - de quem? do Fócrates)

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